sábado, 27 de dezembro de 2025

Correios perdem mercado, faturam bilhões e pagam o preço da má gestão política

Os Correios agonizam enquanto observa o mercado de logística modernizar-se e operar em alta escala.


Por Cleide Gama 

Logística: Mesmo com presença em todos os municípios do país e faturamento bilionário, os Correios seguem perdendo espaço no mercado de entregas. Especialistas, funcionários e usuários apontam a interferência política e a falta de compromisso dos últimos governos como fatores centrais para o enfraquecimento da estatal.

Os Correios continuam sendo uma das maiores empresas logísticas do Brasil. De acordo com dados públicos divulgados em relatórios institucionais, a empresa chegou a registrar faturamento anual superior a R$ 20 bilhões em anos recentes, operando uma rede com mais de 10 mil unidades, dezenas de centros de tratamento e um fluxo diário de milhões de objetos postais, entre cartas, encomendas e serviços logísticos.

Ainda assim, a estatal perdeu protagonismo justamente no período de maior crescimento do setor: a explosão do e-commerce e das entregas rápidas no Brasil



Mercado em expansão, Correios em retração

Enquanto o mercado privado de logística cresceu a taxas anuais estimadas entre 15% e 25%, impulsionado pelo comércio eletrônico, os Correios viram sua participação de mercado encolher. Transportadoras privadas, startups logísticas e aplicativos ocuparam um espaço que historicamente pertencia à empresa pública.



Para especialistas, o problema não está na estrutura, mas na condução política.

"Os Correios sempre tiveram capilaridade, marca e capacidade operacional. O que faltou foi gestão moderna e compromisso dos governos”, avalia o professor Evandro Brasil, pesquisador e defensor da modernização das empresas públicas.



Gestões Temer e Bolsonaro sob críticas

Funcionários ouvidos pela reportagem afirmam que, sobretudo durante os governos Michel Temer (2016–2018) e Jair Bolsonaro (2019–2022), a empresa foi tratada mais como instrumento político do que como ativo estratégico nacional.

A cada troca de governo mudava tudo: diretores, prioridades, projetos. Muitos cargos eram ocupados por indicação política, sem conhecimento técnico. Isso desmotiva quem está na ponta”, relata um funcionário com mais de 20 anos de casa, que pediu para não ser identificado.

Durante esses períodos, os Correios enfrentaram contingenciamentos, falta de investimentos estruturais, sucateamento de unidades e tentativa de preparação apressada para privatização, sem um plano consistente de modernização tecnológica.

Para Evandro Brasil, esse modelo custou caro à empresa e à população:
"Quando políticos se preocupam mais em indicar aliados do que em cobrar resultados, a conta chega. Os Correios sangraram recursos com gestões ineficientes, enquanto o mercado de entregas crescia diante dos nossos olhos.



Operação gigante, gestão pequena

Hoje, os Correios seguem responsáveis por operações estratégicas, como:

Entregas em áreas remotas onde o setor privado não atua

Distribuição de medicamentos, livros e materiais oficiais

Atendimento logístico a milhões de pequenos empreendedores

Mesmo assim, populares relatam insatisfação com prazos e serviços.

A gente confia nos Correios, mas percebe que falta investimento. Dá pra ser melhor”, diz Maria de Lourdes, comerciante em Duque de Caxias (RJ), que depende da empresa para vender pela internet.



O que defendem especialistas e trabalhadores

Entre funcionários, especialistas e usuários, há consenso em alguns pontos:

Gestão técnica e profissional, sem aparelhamento político

Investimento em tecnologia e automação logística

Valorização dos trabalhadores

Foco estratégico no e-commerce e na última milha

Salvar os Correios não é privatizar nem manter tudo como está. É modernizar, blindar contra interferência política e tratar a empresa como estratégica para o desenvolvimento do Brasil”, conclui Evandro Brasil.

Enquanto o debate segue, uma certeza se impõe: o Brasil ainda precisa dos Correios, mas os Correios precisam, urgentemente, de governos comprometidos com resultados — e não apenas com cargos.

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