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Mauro Vieira diz que reunião com Rubio teve "clima excelente" e que reiterou necessidade de reversão das tarifas (Fonte Zero Hora) |
Por Cleide Gama
As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos vivem um momento decisivo. Após meses de incertezas e ameaças de novas tarifas, os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump voltaram a dialogar, buscando um acordo que reduza tensões e restabeleça a confiança entre as duas maiores economias do continente americano.
De acordo com fontes diplomáticas, Lula e Trump conversaram por telefone nesta semana, discutindo alternativas para conter os impactos das tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, anunciadas pelo governo norte-americano. O presidente brasileiro reforçou que as medidas “prejudicam setores produtivos de ambos os países” e defendeu a criação de uma agenda positiva voltada ao investimento em energia limpa, tecnologia e minerais estratégicos.
Trump, por sua vez, teria se mostrado aberto a um diálogo “sem concessões automáticas”, mas afirmou que o objetivo é “garantir que o comércio entre os dois países seja justo e equilibrado”. A conversa foi descrita por diplomatas como “franca, mas construtiva”.
Encontro diplomático em Washington
Enquanto Lula e Trump ensaiam uma reaproximação política, a diplomacia trabalha nos bastidores. O chanceler brasileiro Mauro Vieira se reuniu na Casa Branca com o assessor econômico norte-americano Marco Núbio, em uma conversa que durou mais de duas horas.
Segundo nota conjunta divulgada pelo Itamaraty e pelo Departamento de Estado, o encontro tratou da redução de tarifas sobre produtos aeronáuticos, agrícolas e minerais estratégicos, além da cooperação em energias renováveis e boas práticas regulatórias.
Vieira destacou que “o Brasil e os Estados Unidos compartilham valores democráticos e podem construir uma parceria mais moderna e menos burocrática”. Marco Núbio, por sua vez, afirmou que o governo norte-americano “reconhece o papel do Brasil como potência energética e player global no setor de alimentos e biocombustíveis”.
Comércio bilionário e desafios estruturais
Em 2024, o comércio bilateral entre os dois países movimentou mais de US$ 90 bilhões, segundo o United States Trade Representative (USTR), com crescimento acima de 8% em relação ao ano anterior. As exportações brasileiras para os EUA — principalmente petróleo, ferro, alumínio e produtos agrícolas — somaram cerca de US$ 40 bilhões, enquanto as importações brasileiras de bens norte-americanos chegaram a valor semelhante.
Apesar do volume expressivo, as tarifas impostas em 2025 geraram preocupação entre exportadores brasileiros, especialmente dos setores de aeronáutica, etanol e açúcar. A Embraer, por exemplo, enfrenta uma taxa de 10% sobre aeronaves enviadas ao mercado norte-americano.
Para mitigar os impactos, o governo brasileiro anunciou R$ 5,5 bilhões em créditos para exportadores, segundo a Agência AP News. A medida busca compensar parte das perdas causadas pelas tarifas e manter a competitividade do produto nacional.
Caminho para um novo acordo
Entre os principais pontos de convergência nas conversas diplomáticas estão:
- A criação de um mecanismo de cooperação em minerais estratégicos, como lítio e terras-raras.
- A retomada de um acordo setorial para o comércio de aeronaves e tecnologia de defesa.
- E a ampliação do Protocolo de Regras Comerciais e Transparência, firmado em 2022 no âmbito do Agreement on Trade and Economic Cooperation (ATEC).
Fontes próximas ao Palácio do Planalto afirmam que uma reunião entre Lula e Trump poderá ocorrer “nas próximas semanas”, possivelmente em território neutro, como Nova York ou Brasília. O objetivo seria formalizar um plano de trabalho conjunto e evitar a escalada de retaliações comerciais.
Perspectivas
Especialistas avaliam que o sucesso das negociações dependerá da disposição dos dois governos em encontrar soluções de médio prazo. Caso contrário, o Brasil poderá intensificar sua diversificação de parceiros comerciais, reforçando laços com China, Índia e União Europeia.
Ainda assim, diplomatas de ambos os lados classificaram o momento atual como “uma oportunidade histórica para redefinir o relacionamento Brasil–EUA no século XXI”.
Fontes: USTR, Reuters, Agência Brasil, AP News, Itamaraty, Atlantic Council.
📍 Washington, outubro de 2025.

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