sexta-feira, 18 de julho de 2025

Bolsonaro é alvo de nova operação da PF, usa tornozeleira e tem direitos políticos cada vez mais limitados

Jair Bolsonaro, por decisão da justiça, terá de usar tornozeleira eletrônica, além de cumprir outras medidas restritivas

Por Marcelo Procópio

Brasília: Nesta sexta-feira (18), a Polícia Federal realizou buscas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que passa a ser monitorado por tornozeleira eletrônica por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão faz parte de um inquérito sigiloso que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado articulada por Bolsonaro e membros de sua base política e militares.

Segundo informações da imprensa e confirmadas pela defesa do ex-presidente, os agentes da PF estiveram em sua residência em Brasília e também na sede nacional do Partido Liberal. A operação ocorre às vésperas do julgamento que pode culminar em sua prisão. Além disso, Bolsonaro foi proibido de utilizar redes sociais, comunicar-se com diplomatas estrangeiros e até mesmo de conversar com seu próprio filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que atualmente está nos Estados Unidos.

Entre as restrições impostas, Bolsonaro deverá cumprir recolhimento domiciliar noturno — das 19h às 7h — além de permanecer em casa durante os fins de semana. A decisão reforça o cerco jurídico e político contra o ex-presidente, que já foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após ser condenado por disseminar desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro.


Crise internacional: o impacto da sobretaxa de Trump

O agravamento da situação de Bolsonaro acontece em paralelo a um novo impasse diplomático entre Brasil e Estados Unidos. Recentemente, o ex-presidente norte-americano Donald Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos importados do Brasil. Em sua justificativa, Trump alegou que o país estaria "cometendo uma injustiça" contra Bolsonaro, referindo-se aos processos em andamento no STF.

Em resposta, Bolsonaro tentou se desvincular da medida, alegando que não possui "liberdade total" para influenciar Trump, mas pediu a devolução de seu passaporte — atualmente retido pela Justiça — para tentar uma “negociação direta” com o aliado americano. A solicitação foi negada. A carta de Trump mencionava diretamente os processos contra Bolsonaro como motivadores do aumento tarifário, uma atitude sem precedentes na diplomacia entre os dois países.


Isolamento político e rejeição crescente

Nos bastidores, Bolsonaro enfrenta um crescente isolamento. Governadores de direita e lideranças que antes o apoiavam publicamente passaram a adotar uma postura mais pragmática, preocupados com os impactos econômicos do tarifaço imposto pelos EUA. A pressão empresarial e o temor de novas retaliações estão forçando esses líderes a buscar interlocução com o governo Lula para reverter os prejuízos comerciais.

Além disso, o movimento bolsonarista tem enfrentado resistência até mesmo dentro de seu campo ideológico. O apoio incondicional ao ex-presidente tem se tornado cada vez mais arriscado politicamente, principalmente após os desdobramentos dos ataques golpistas de 8 de Janeiro de 2023.


Histórico de confrontos com a democracia

Desde o início de seu mandato, Jair Bolsonaro adotou uma retórica hostil às instituições democráticas. Repetidamente atacou o STF, o TSE, e desacreditou o sistema eletrônico de votação sem apresentar provas. Em diversos discursos, sugeriu a possibilidade de ruptura institucional e incentivou manifestações antidemocráticas.

Após a derrota nas eleições de 2022, Bolsonaro evitou reconhecer o resultado, estimulando a manutenção de acampamentos em frente a quartéis e sugerindo que as Forças Armadas poderiam agir para reverter o processo eleitoral. Há registros de reuniões em que o ex-presidente discutiu com militares e aliados próximos formas de anular a eleição e intervir nos tribunais.

Em fevereiro de 2024, Bolsonaro foi alvo de outra operação da Polícia Federal que mirava militares e ex-ministros supostamente envolvidos na preparação de um golpe. À época, foi obrigado a entregar seu passaporte em 24 horas.


Crimes em investigação e possível condenação

Atualmente, Bolsonaro responde a inquéritos por crimes como tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, incitação ao crime, deterioração do patrimônio público e tentativa de abolir o Estado democrático de Direito por meios violentos.

Caso venha a ser condenado por todas as acusações, a pena total pode ultrapassar 40 anos de prisão, somando-se à sua condição de inelegível. Mesmo entre apoiadores históricos, cresce a avaliação de que seu futuro político está comprometido, restando a ele a tentativa de se posicionar como “perseguido político” no cenário internacional.


O atual momento marca um ponto de inflexão na trajetória de Jair Bolsonaro. De líder popular com forte presença nas redes sociais e apoio militar, ele se vê agora limitado por medidas judiciais severas, isolado politicamente e confrontado por aliados internacionais que antes o exaltavam. Resta saber se conseguirá manter sua base mobilizada diante das crescentes evidências que pesam contra ele — e se o bolsonarismo sobreviverá politicamente à derrocada de seu líder maior.


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