por Marcelo ViníciusCongresso Nacional demonstra total descompromisso com o gasto público ao
aprovarem o aumento do numero de deputados proposto pela filha o Eduardo Cunha.
Brasília: A aprovação, pela Câmara dos Deputados, do projeto que eleva o número de parlamentares federais de 513 para 531 é um ato político que desafia não apenas a lógica fiscal, mas também o bom senso democrático em um país ainda às voltas com desigualdade, fome e crise institucional. O projeto — vetado pelo presidente Lula no último dia 17 — é, na prática, um movimento corporativista disfarçado de correção representativa. O que poderia ser uma atualização da proporcionalidade entre população e representação se tornou um símbolo de insensibilidade e distanciamento do Legislativo em relação ao povo que representa.
De acordo com o Datafolha, 85% da população brasileira é contra o aumento no número de deputados. Esse dado não é apenas um termômetro de opinião pública — é um grito coletivo contra o desperdício de dinheiro público. O custo estimado da medida, segundo projeções da Câmara dos Deputados, seria de pelo menos R$ 65 milhões por ano, fora os efeitos em cascata que atingiriam os legislativos estaduais, que também aumentariam suas cadeiras proporcionalmente. Estima-se que os estados teriam um impacto adicional de R$ 2 a R$ 22 milhões, dependendo da sua estrutura e do número de novos parlamentares.
Em meio a um cenário de déficit fiscal, inflação pressionada e necessidade de corte de gastos, soa como provocação o argumento de que esse gasto seria necessário para “ajustar” a representação. A Constituição prevê sim a proporcionalidade populacional, mas não obriga o aumento total de cadeiras — bastaria redistribuir os 513 assentos atuais entre os estados, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já se preparava para fazer com base nos dados do Censo 2022.
O presidente Lula, ao vetar integralmente a proposta, alegou violação à Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), à Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025 e ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). Os ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Justiça, além da Advocacia-Geral da União, endossaram o veto, apontando ausência de estimativa de impacto financeiro — exigência básica em qualquer ampliação de despesa obrigatória.
Para o cientista político Cláudio Couto, da FGV, a proposta é “um exemplo de como interesses parlamentares podem se travestir de medidas técnicas”, enquanto a população arca com os custos e permanece sub-representada em pautas realmente urgentes, como segurança, educação e saúde. Já a economista Ana Carla Abrão, ex-secretária de Fazenda de Goiás, afirma que “num país com alta desigualdade e limites fiscais estreitos, expandir a máquina pública sem reavaliar prioridades é um convite à irresponsabilidade”.
Além disso, há um fator simbólico perverso: o Legislativo envia um recado de que é imune à crise. Enquanto milhões enfrentam desemprego, insegurança alimentar e sobrecarga de impostos, deputados propõem aumentar o próprio espaço político — sem qualquer garantia de ganho em eficiência ou qualidade legislativa.
Diante disso, é importante que o Congresso respeite o veto presidencial e reconheça que a representatividade não se mede apenas em número de cadeiras, mas em qualidade de atuação, transparência, compromisso público e respeito à austeridade. O Brasil não precisa de mais deputados. Precisa de melhores representantes.
.png)
.jpeg)
.jpeg)
.jpeg)