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| Foto de mudas de maconha apreendidas em operações da polícia civil na região de Nova Friburgo |
Por Cleide Gama
Polícia: A tranquilidade de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, vem sendo abalada por uma série de operações policiais que revelaram um cenário inesperado: o avanço do cultivo ilegal de maconha em áreas rurais do município, especialmente nas localidades de Galdinópolis e Lumiar.
Nos últimos meses, a Polícia Civil e a Polícia Militar apreenderam centenas de pés de maconha em estufas equipadas com iluminação artificial, ventilação e sistemas de irrigação sofisticados — estrutura semelhante à usada em plantações industriais. Em uma das ações mais recentes, cerca de 500 pés da planta foram encontrados em um sítio de difícil acesso, além de produtos derivados como óleo de cannabis e haxixe.
De acordo com o delegado responsável pela 151ª DP de Nova Friburgo, as investigações apontam para um novo perfil de traficante, mais técnico e discreto, que atua longe dos grandes centros urbanos.
“Estamos observando uma mudança de estratégia. Os criminosos buscam locais afastados, aproveitando a geografia e o clima favorável da serra para produzir em larga escala sem chamar atenção”, explicou o delegado.
A situação também preocupa moradores das regiões afetadas. O agricultor João Batista, de 62 anos, morador de Galdinópolis, conta que o sentimento é de insegurança:
“Aqui sempre foi um lugar tranquilo, de famílias antigas. Agora a gente vê a polícia subindo toda hora, helicóptero, viatura… É triste ver isso acontecer tão perto da gente.”
Por outro lado, especialistas em políticas de drogas defendem que o debate precisa ir além da repressão. A professora e pesquisadora da UERJ, Dra. Marina Vasconcellos, ressalta que o tema exige uma abordagem equilibrada:
“Essas apreensões mostram que há uma demanda crescente pelo uso da cannabis, seja medicinal ou recreativo. Sem uma regulamentação mais clara, o cultivo clandestino tende a crescer. O caminho é discutir o tema com base em evidências científicas e políticas públicas, não apenas na criminalização.”
Entre os jovens, a curiosidade e o debate sobre o uso da maconha também ganham força. Um estudante de 20 anos, que preferiu não se identificar, comentou:
“Muita gente aqui vê a cannabis como algo natural, mas poucos sabem das consequências legais. O problema é que não há informação suficiente — só medo e repressão.”
Enquanto a Justiça e o Congresso ainda discutem os limites do uso medicinal e as propostas de legalização, Nova Friburgo se torna um retrato das contradições brasileiras: entre a repressão e a necessidade de um debate mais maduro sobre drogas.
Por ora, as autoridades prometem intensificar as operações na serra fluminense, enquanto a sociedade tenta entender o que há por trás das estufas escondidas no verde das montanhas.

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