domingo, 23 de novembro de 2025

Delações na Operação Carbono Oculto abalam Brasília e acendem alerta para ligação com o escândalo do Banco Master

A operação Carbono Oculto atingiu em cheio a Faria Lima - reprodução 

Por Cleide Gama 

Banco Master: A Operação Carbono Oculto, deflagrada em 28 de agosto de 2025, é considerada uma das maiores investidas do Estado contra a infiltração do crime organizado no setor legal da economia. Segundo as autoridades, a operação mira um esquema bilionário de lavagem de dinheiro comandado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), que usou empresas de combustíveis, postos, fintechs e fundos de investimento para reinserir recursos ilícitos no sistema formal. 

Os principais alvos são Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, e Mohamad Hussein Mourad, o “Primo” ou “João” — apontados, respectivamente, como operador financeiro e epicentro do esquema. 


Os dados levantados até agora impressionam pela escala:

Cerca de 1.200 postos foram identificados como parte da rede investigada; Entre 2020 e 2024, esses postos movimentaram aproximadamente R$ 52 bilhões, segundo a Receita Federal; Foram bloqueados mais de R$ 1 bilhão em bens dos investigados.; 40 fundos de investimento, geridos por operadores da Faria Lima, estariam envolvidos no esquema de lavagem. Além disso, a Operação Carbono Oculto ganhou um desdobramento no Nordeste: a Operação Carbono 86, conduzida pela Polícia Civil do Piauí, indicou que parte do esquema envolvia postos no Piauí, fintechs e empresários locais, o que reforça a nacionalização da rede criminosa. 


Revelações das delações: elo com o caso Master

Nas últimas semanas, surgiram informações de que Beto Louco já teria firmado delação premiada, e Primo estaria negociando uma colaboração com a Justiça. Essas delações teriam produzido relatos capazes de abalar Brasília — porque, conforme apurado por analistas, reforçam a suspeita de conexão entre a Carbono Oculto e o escândalo do Banco Master (“caso Master”).


Qual é a ligação entre Carbono Oculto e o Master?

1. Fundo Hans 95: Investigações indicam que o fundo Hans 95, da gestora Reag, estaria diretamente envolvido nas operações da Carbono Oculto. 

Esse mesmo fundo fez aportes consideráveis no Banco Master, controlado por Daniel Vorcaro, que foi preso pela Polícia Federal na Operação “Compliance Zero”. 

Dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) revelam que o Hans 95 aplicou R$ 124 milhões em CDBs do Master em outubro de 2024. 

Outros fundos ligados ao Hans 95 — como o Astralo 95 e o Murren 41 — também fizeram aportes no Master, totalizando até R$ 849 milhões em títulos do banco. 


2. Transferências suspeitas: Relatórios da Receita Federal indicam que a esposa de Mohamad “Primo” Mourad transferiu R$ 17 milhões para o Hans 95 em 2023, via a fintech BK Bank, que está sob investigação na Carbono Oculto. 

Em 2022, outro repasse de R$ 45 milhões foi feito ao fundo por meio da mesma fintech, segundo a Receita. 


3. Operação Compliance Zero: A prisão de Vorcaro (dono do Master) pela Polícia Federal ocorreu no contexto da Operação Compliance Zero, que investiga supostas fraudes no banco, emissão de carteiras de crédito fictícias, e revenda dessas carteiras a outras instituições, como o BRB. 

Segundo os investigadores, parte dessas carteiras não teria lastro real, o que reforça a tese de manipulação contábil e associação permanente com propósitos ilícitos. 


4. Investimentos polêmicos do Master: Um relatório judicial aponta que o Master teria vendido carteiras de crédito ao BRB por cerca de R$ 12,2 bilhões, após adquiri-las “sem pagar nada” de empresas de fachada (como a Tirreno), segundo investigação do MPF. 

Há também denúncia de que o fundo Hans 95, além de investir no banco, estaria por trás da compra de ativos imobiliários ligados a Vorcaro, como a mansão dele em Brasília. 


5. Investimento em clubes de futebol: Segundo a Veja, Vorcaro usou parte desses recursos para investir na SAF do Atlético-MG por meio de fundos suspeitos, o que amplia a rede de influência e possível lavagem via ativos esportivos. 


Opinião de especialistas e análise

Especialistas no combate ao crime organizado e lavagem de dinheiro já começam a enxergar esse possível entrelaçamento entre Carbono Oculto e o caso Master como algo muito preocupante, por vários motivos:

Amplitude do PCC na economia formal: Se confirmado, esse tipo de ligação mostra o quão profundamente o PCC pode estar inserido no mercado financeiro, não só via postos de gasolina (como revelado pela Carbono Oculto), mas também em bancos tradicionais ou menos tradicionais.

Estruturas sofisticadas de ocultação: A utilização de fundos interligados (como Hans 95, Astralo, Murren) é uma estratégia eficiente para dificultar o rastreamento de beneficiários finais, modelo idêntico ao das operações atribuídas à facção.

Risco sistêmico: Se bancos como o Master estiverem contaminados por esquemas de crime organizado, há risco para a credibilidade do sistema financeiro, para investidores (inclusive instituições públicas, fundos de pensão) e para a estabilidade regulatória — especialmente porque o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) pode ser muito pressionado.

Precedente para investigação futura: Essas delações podem abrir caminho para novas frentes de investigação sobre outros bancos, fundos e figuras políticas, especialmente se houver evidências de “vínculo associativo permanente”.

Alguns analistas, no entanto, alertam para o risco de instrumentalização política dessas operações: operações tão volumosas e com tantos atores podem facilmente se tornar objeto de disputa de narrativa, sobretudo em ano eleitoral. Há temor de que delações sejam usadas para desgastar adversários políticos, o que poderia enfraquecer a percepção pública da imparcialidade das investigações.


Conclusão e implicações para Brasília

As delações em curso (especialmente a de Beto Louco e a negociação de “Primo”) têm potencial para revelar novas camadas do esquema, possivelmente conectando diretamente a Carbono Oculto ao escândalo do Banco Master.

Se essas conexões forem confirmadas judicialmente, estarão em jogo não apenas crime financeiro e lavagem de dinheiro, mas também política: figuras de Brasília podem estar envolvidas ou citadas, o que traria repercussões institucionais e eleitorais.

Para a sociedade, esse cruzamento traz um alerta forte: o crime organizado pode estar muito mais enraizado na economia legal do que muitos imaginam — especialmente nas malhas entre o setor de combustíveis, o sistema financeiro e fundos de investimento sofisticados.

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