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| Foto de Arquivo: 39 Kg de cocaína em avião presidencial constrange governo bolsonaro |
Por Evandro Brasil
Sevilha, 25 de junho de 2019 — Manoel Silva Rodrigues, segundo-sargento da Aeronáutica, foi preso no aeroporto de Sevilha, no sul da Espanha, com 39 quilos de cocaína em sua bagagem de mão, divididos em 37 pacotes.
Ele fazia parte da equipe de apoio (escalão avançado / “avião de reserva”) da comitiva presidencial de Jair Bolsonaro, que se dirigia ao Japão para a reunião do G20.
O avião principal da presidência não transportava Bolsonaro nesse trecho, e após o caso, houve mudança de escala: em vez de Sevilha, o retorno da viagem presidencial fez escala em Lisboa.
Procedimentos e investigações
O militar foi submetido a um Inquérito Policial Militar (IPM) aberto pela Aeronáutica para apurar se todos os protocolos de segurança foram seguidos, especialmente no embarque da mala na base aérea de Brasília.
Também se formou um grupo de trabalho para reforçar os controles de segurança nos voos da FAB.
Manoel Silva Rodrigues permaneceu preso provisoriamente na Espanha, cumpre regime conforme decisão da justiça espanhola.
Atualização: sentença e consequências
Em fevereiro de 2020, o militar aceitou um acordo com a Promotoria da Espanha, que resultou em pena de seis anos de prisão.
Ele também foi condenado a pagar multa de 2 milhões de euros nas instâncias espanholas.
No Brasil, o caso continua a ter repercussões institucionais, sobretudo para as Forças Armadas, em termos de credibilidade e necessidade de revisão de protocolos de segurança.
Impacto e reações institucionais
O governo Bolsonaro classificou o episódio como “inaceitável” e determinou “punição severa”.
O Ministério da Defesa e a Aeronáutica comprometeram-se a colaborar com as investigações na Espanha, assim como instaurar processos disciplinares no Brasil.
Opinião de especialistas
Especialistas em segurança pública, direito militar e políticas de controle de tráfico apontam os seguintes aspectos:
1. Falhas institucionais de controle — Há consenso de que este caso evidencia lacunas nos procedimentos de vistoria e segurança nos voos oficiais reservados, mesmo em escalões de apoio. A lógica militar de confiança interna pode criar espaços vulneráveis.
2. A necessidade de transparência — Especialistas defendem que as Forças Armadas reforcem a transparência dos inquéritos internos, publiquem relatórios de como o incidente ocorreu, quais controles falharam, quem foi responsabilizado. Isso ajuda a reafirmar a autoridade institucional.
3. Prestígio institucional afetado — O episódio repercute fortemente na opinião pública, afetando a confiança não apenas no militar envolvido, mas nas Forças Armadas como um todo. Isso ocorre especialmente porque instituições militares costumam ser tidas por “morais” ou “ícones de integridade” por parte da população.
4. Proposta de aperfeiçoamento de protocolos — Entre as recomendações técnicas: revisões regulares de controle de bagagem para tripulantes, uso de scanners em todos os aeroportos e trechos, fiscalização cruzada entre órgãos (FAB, Ministério da Defesa, GSI quando aplicável), auditorias externas, além de sanções visíveis em casos de infração.
5. O papel do direito penal internacional — O caso ilustra como crimes cometidos no exterior, especialmente por agentes públicos, são objeto de jurisdição estrangeira (no caso, espanhola) e também de responsabilidade disciplinar interna, o que reforça a cooperação internacional como dimensão fundamental no combate ao tráfico.
Reflexão final
Mesmo após a sentença, muitos questionamentos permanecem: quantos outros incidentes semelhantes podem ter passado despercebidos? As sanções disciplinares no Brasil foram suficientes? E o mais importante, medidas preventivas robustas foram implementadas para que algo parecido não volte a acontecer?
Este caso também serve de alerta para a necessidade contínua de vigilância institucional: quando agentes do Estado — especialmente militares, e mais ainda em missões oficiais — envolvem-se em crimes graves, a resposta tem de ser rigorosa, transparente e exemplar.

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