Foto de Arquivo: MC Poze foi preso na manhã da quinta-feira , 29 de maio em sua residência no Recreio dos Bandeirantes
por Cleide Gama
Polícia: A prisão do funkeiro MC Poze do Rodo, na manhã desta quinta-feira (29), virou combustível para reacender um debate antigo e polêmico: o funk é cultura ou crime? Enquanto a Justiça acusa o cantor de apologia ao crime e envolvimento com facções, a sociedade questiona — até onde vai o preconceito contra a cultura da periferia?
Descalço, sem camisa e escoltado pela polícia, Poze foi retirado de sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, e levado para a Cidade da Polícia, no Jacaré, onde prestou depoimento antes de ser encaminhado à Cadeia Pública de Benfica.
O episódio causou indignação e reflexões em diversos setores. Professores, ativistas e moradores enxergam nessa prisão uma clara demonstração de como o Estado continua criminalizando manifestações culturais das favelas, enquanto artistas de outras áreas são tratados com respeito e até glamour, mesmo abordando temas igualmente polêmicos.
“O que vemos aqui é a criminalização de uma expressão cultural que traduz a realidade das periferias”, afirma o professor de sociologia Rafael Almeida. “Se fosse um artista renomado do teatro, do cinema ou da literatura, com obras que abordam violência ou drogas, dificilmente veríamos uma operação como essa.”
Moradores de comunidades, em entrevistas espontâneas, também reagiram:
“O problema não é o Poze. O problema é a falta de oportunidades, de escolas decentes, de políticas públicas de verdade. Vão prender cantor enquanto o tráfico continua? Isso é cortina de fumaça”, desabafa Dona Marlene, 62 anos, moradora do Complexo do Alemão.
O próprio Professor Evandro Brasil entrou no debate:
“A cultura da favela pulsa vida, resistência e voz. Criminalizar o funk é calar quem nunca foi ouvido. O que esperamos é que, a partir desse episódio, surja um movimento forte pela valorização da cultura popular. E que, inclusive, isso traga vitalidade e novas energias ao Poze que tem o direito de cumprir qualquer sansão em liberdade vigiada. Essa é uma poderosa voz das periferias que se o Estado o criminalizar estará criminalizando outros jovens que o acompanham. Poze pode ser o que a pedagogia precisa para trazer o jovem periférico para a linha de frente das pessoas de bem”
A esperança é que essa reflexão se transforme em ação. Que os olhares se voltem não só para o funk, mas para todas as expressões culturais populares, que resistem, mesmo sendo frequentemente marginalizadas.
Enquanto o debate continua, uma pergunta ecoa pelas ruas, pelas universidades e pelos becos das comunidades: quem tem o poder de definir o que é arte e o que é crime?
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