Um soldado monta guarda na Colômbia após a violência em Catatumbo. Fotografia: Mario Caicedo/EPA (The Guardian) |
Por Marcelo Procópio
Relações Internacionais: As relações entre Bogotá e Caracas estão cada vez mais tensas após a revelação de que os rebeldes responsáveis por um dos episódios mais violentos da Colômbia nos últimos anos passaram pelo território venezuelano antes de iniciar sua série de ataques.
Relatórios de inteligência militar indicam que pelo menos 80 combatentes fortemente armados, portando fuzis de assalto e explosivos, cruzaram os estados venezuelanos de Táchira e Zulia antes de atacar um grupo rival e civis considerados seus apoiadores. Esse deslocamento massivo de guerrilheiros sem qualquer interferência levanta suspeitas sobre o possível envolvimento ou, no mínimo, conivência do governo de Nicolás Maduro.
Analistas sugerem que a situação pode desencadear um agravamento das já frágeis relações diplomáticas entre os dois países. Embora não haja provas concretas de um envolvimento direto de Caracas, a coincidência entre o ataque e os momentos políticos críticos na região, como as posses de Nicolás Maduro e Donald Trump, levanta questionamentos. "Não temos evidências concretas, mas é difícil acreditar que o conflito tenha eclodido exatamente nesse período por mero acaso", declarou Bram Ebus, especialista do International Crisis Group.
O ataque foi promovido pelo Exército de Libertação Nacional (ELN) contra uma facção rival na região de Catatumbo, conhecida pela presença de grupos armados e pela ausência de controle estatal efetivo. O saldo da ofensiva foi devastador: pelo menos 80 mortos e mais de 40.000 pessoas forçadas a abandonar suas casas.
Em resposta, o presidente colombiano, Gustavo Petro, decidiu suspender as negociações de paz com o ELN e decretar um "estado interno de comoção", além de ordenar o envio de tropas para reforçar a segurança na fronteira. Nicolás Maduro, por sua vez, também mobilizou forças militares para a região, aumentando ainda mais a tensão.
A crise se aprofundou quando Petro questionou publicamente como um contingente tão grande de combatentes conseguiu se deslocar por centenas de quilômetros dentro do território venezuelano sem ser detectado. "Certamente teríamos recebido alguma informação, mas não tivemos nada. Como isso foi possível?", questionou o presidente colombiano.
O governo venezuelano reagiu duramente às declarações de Petro, acusando-o de abandonar suas raízes políticas e traindo sua antiga posição como ex-guerrilheiro de esquerda. "Ele se tornou um fantoche do sistema. Não há mais nada do esquerdista que ele foi", declarou um alto funcionário do governo Maduro ao jornal espanhol El País.
A presença do ELN na Venezuela não é novidade. Há décadas, o grupo guerrilheiro opera em território venezuelano e, com a crise econômica e social que atingiu o país, essa relação se tornou ainda mais próxima. Relatórios de organizações de direitos humanos apontam que o ELN não apenas recebeu permissão para atuar no país, mas, em alguns casos, se tornou uma espécie de braço auxiliar do Estado venezuelano.
Especialistas sugerem que as forças militares venezuelanas trabalharam diretamente com o ELN em diversas ocasiões para eliminar grupos guerrilheiros concorrentes e manter o controle sobre áreas estratégicas, como o chamado "arco de mineração", onde estão ricas jazidas de ouro, diamantes e coltan. Além disso, o ELN teria papel ativo no controle do fluxo de pessoas e mercadorias na fronteira, servindo aos interesses do governo de Maduro.
O episódio em Catatumbo expôs essa relação e aumentou a pressão sobre Petro para adotar uma posição mais firme. "O que a Venezuela está fazendo é uma afronta à Colômbia, e estamos permitindo isso", afirmou o general aposentado Gustavo Matamoros Camacho em uma entrevista a uma rádio local.
A relação entre Petro e Maduro, que já foi de proximidade, sofreu abalos. O presidente colombiano evitou comparecer à cerimônia de posse de Maduro no último dia 10 de janeiro, um evento que gerou polêmica internacional devido às acusações de fraude eleitoral. Para muitos analistas, esse gesto foi visto por Maduro como uma provocação direta. "Petro tenta manter uma postura diplomática, mas para Maduro, isso é um insulto. Para ele, isso significa confronto", afirmou Cristina Burelli, do grupo ambientalista SOS Orinoco.
Em meio ao agravamento da crise, Maduro negou qualquer envolvimento da Venezuela com o ELN e tentou inverter a narrativa, acusando a Colômbia de abrigar membros do sindicato criminoso venezuelano Tren de Aragua, conhecido por sua atuação transnacional no crime organizado.
Diante desse cenário, Petro enfrenta o desafio de conter a escalada do conflito na fronteira sem aprofundar ainda mais a rivalidade com Caracas. Em pronunciamento recente, ele afirmou estar em diálogo com as autoridades venezuelanas e pediu que o governo de Maduro bloqueie as rotas clandestinas usadas para travessia ilegal.
O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Murillo, levou a questão à ONU, solicitando um controle mais rigoroso da Venezuela sobre sua fronteira. Enquanto isso, especialistas alertam que, se a situação continuar se deteriorando, Catatumbo pode se tornar um novo epicentro de conflito prolongado na região.
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