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O número de pessoas trabalhando nas plataformas digitais já ultrapassou 25,4% em relação ao ano passado, diz o IBGE
Por Marcos Vinicius, para o Jornal O Folhão
Rio de Janeiro — Pela manhã, o trânsito da cidade ainda engole buzinas e acelera esperanças. No volante de seu carro, João Carlos, 42 anos, sorri ao relatar sua rotina de trabalho por aplicativo. “Entro online às 7h e geralmente fecho bem a noite. É puxado, mas consigo colocar comida na mesa e ajudar em casa”, diz o motorista, que há dois anos depende dessa atividade como principal fonte de renda.
Essa cena, cada vez mais comum nas cidades brasileiras, espelha uma transformação profunda no mundo do trabalho e da mobilidade: o crescimento vertiginoso do setor de transporte por aplicativo — uma oportunidade de renda que atrai motoristas, motociclistas, passageiros e especialistas em todo o país.
Expansão acelerada e números que impressionam
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas trabalhando por meio de plataformas digitais cresceu 25,4% entre 2022 e 2024, saltando de 1,3 milhão para cerca de 1,7 milhão de trabalhadores no Brasil. Dessas, mais da metade atua no transporte de passageiros por aplicativo — cerca de 964 mil pessoas em 2024, entre motoristas de carros e táxis digitais.
Além disso, motociclistas que realizam entregas por meio de apps também compõem uma fatia significativa da força de trabalho digital no país: aproximadamente um terço dos mais de 1 milhão de motociclistas usam aplicativos para gerar renda.
Dados mais amplos mostram que, ao longo da última década, o emprego por meio de aplicativos cresceu mais de 170%, sinalizando uma mudança profunda no mercado de trabalho brasileiro.
Renda, jornada e desafios no dia a dia
O setor atrai pela flexibilidade e autonomia, mas também traz desafios. O rendimento médio por hora para motoristas de aplicativo gira em torno de R$ 13,90, enquanto motociclistas chegam a R$ 10,80 por hora trabalhada, segundo o IBGE.
Para muitos, como Mariana Silva, 29 anos, que faz entregas de moto em Niterói, a renda extra é essencial: “Comecei há um ano enquanto procurava outro trabalho. Hoje consigo pagar contas e ainda guardar um pouco. Não é fácil, mas dá pra viver.”
O próprio IBGE afirma que motoristas e motociclistas por aplicativo trabalham mais horas do que seus colegas fora das plataformas — fato que equilibra a renda, mas pode representar jornadas extensas e com poucos benefícios trabalhistas.
Especialistas analisam a transformação
Para Dra. Ana Paula Reis, economista especializada em mercado de trabalho digital, o crescimento do transporte por aplicativo reflete “a adaptação do trabalhador às exigências de um mercado flexível, mas sem garantias tradicionais.” Segundo ela, “o setor oferece uma porta de entrada para a geração de renda, especialmente em um cenário de desemprego e informalidade elevados. Porém, a falta de proteção social e de direitos trabalhistas ainda é um ponto crítico que precisa ser debatido pela sociedade e pelos legisladores.”
O lado social da mobilidade digital
Passageiros também sentem os efeitos desse boom. Para Lucas Oliveira, 34 anos, a conveniência dos apps foi um divisor de águas: “Posso me deslocar para o trabalho com mais segurança e conforto, e sei que tem gente ali ganhando seu sustento.”
Ainda assim, especialistas alertam que é fundamental encontrar um equilíbrio entre a geração de renda e as condições de trabalho. Reis lembra que “sem regulamentação adequada, há risco de precarização das atividades, com altos custos operacionais e pouca segurança para os trabalhadores.”
O futuro da mobilidade no Brasil
Nos últimos anos, iniciativas variadas têm surgido para tentar equilibrar essa balança: desde propostas de regulamentações específicas até programas de inclusão previdenciária para motoristas e entregadores. O setor de tecnologia e mobilidade, por sua vez, segue em evolução, com novas ferramentas e plataformas buscando aumentar a eficiência e renda dos profissionais.
Enquanto isso, no volante e na garupa das motocicletas, milhares de brasileiros seguem ligados aos aplicativos — cada corrida, cada entrega, cada viagem representando uma parte dessa nova economia em expansão.
O transporte por aplicativo consolidou-se como um importante vetor de geração de renda no Brasil. Apesar dos desafios em termos de jornada e proteção social, a atividade continua atraindo trabalhadores em busca de oportunidades, ao mesmo tempo em que redefine o conceito de mobilidade urbana e trabalho no país.
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