Governo de transição admite que poderá privatizar parte da Petrobras
Hoje a possibilidade de privatização da Petrobras ou de parte dela ganha espaço nas noticias de radio e tv. Tal ação esta na boca do presidente eleito Jair Messias Bolsonaro. Mas, um fato é verdadeiro: Quando algo te incomoda, se livre dele. Esta é uma atitude comum no mercado entre os empreendedores.
Quando a Vale do Rio Doce foi privatizada nos anos 1990, houve muito burburinho: o governo federal teria vendido a estatal a preço de banana e teria dado a “prata da casa” de bandeja para o capital especulativo estrangeiro. O simbolismo pegou: privatização é até hoje o maior palavrão da política brasileira, e defender a venda da Petrobras ou Banco do Brasil ao capital privado é coisa extrema. Pode causar um sabor amargo.
Quanto a privatização da Vale do Rio Doce, segundo os economistas Vinicius Carrasco e João Manoel Pinho de Mello valeu à pena. Pois após a privatização a Vale passou a ser uma das empresas mais lucrativas em seu segmento na economia mundial.
E a Petrobras? Essa gigante estatal está hoje na boca do povo por conta da corrupção praticada por executivos e políticos brasileiros, e também, pelo alto preço cobrado pelos combustíveis no mercado interno. Vale ressaltar que ao abrir o capital da empresa com venda de suas ações no mercado internacional o governo (à época PT) colocou em risco o controle da estatal. Outro fato que ajudou a comprometer ainda mais a gestão da Petrobrás foi a desastrada compra da refinaria de Pasadena no Texas. A empresa teria pagado uma quantia exorbitantemente maior do que o adequado numa operação aprovada pelo Conselho de Administração, composto por membros graduados do governo e grandes gestores do setor privado. Na ocasião Dilma Houssef presidia o Conselho de Administração da empresa.
Mas é curioso que Pasadena tenha ganhado tanta repercussão, pois o prejuízo da Petrobras com essa refinaria faz cócegas se compararmos com a imensa queda do valor da empresa observado nos últimos anos. Desde 2010 até hoje, o valor da Petrobras caiu de R$380 bi para R$215 bi, ou seja uma queda de 43% segundo o Relatório de Administração da empresa[3]. Se você ainda é acionista da Petrobras, deve saber que os lucros líquidos atribuíveis aos acionistas tiveram queda de R$35,2 bi para R$23,6 bi no mesmo período.
Entre outros, um dos fatores de distúrbio às finanças da empresa tem sido a política de reprimir preços de gasolina praticada nos últimos anos com o intuito de conter a inflação. Destacamos, porém, que a algum tempo não está valendo a pena produzir petróleo no Brasil, apesar de nossa autossuficiência, pois a produção total de óleo e gás natural da Petrobras caiu de 2,6 milhões de barris/dia em 2010 para 1,9 milhão de barris/dia. Do outro lado estão as importações da gasolina, que apresentaram um crescimento espetacular de meros 149 barris equivalentes de petróleo (beps) em 2009 para 2,9 milhões de beps em 2010 e 16,3 milhões em 2013, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo.
Como se vê, Pasadena não é nada perto do que estrago feito na Petrobras, a maior empresa pública do Brasil. É difícil saber o que aconteceria com a Petrobrás se ela tivesse sido privatizada na onda dos anos 1990, mas temos que concordar que dificilmente estaria na situação em que a encontramos hoje. A Vale teve muito êxito, e alguns poderão argumentar que ela se beneficiou de uma valorização extraordinária dos preços de minério nas últimas duas décadas. É verdade, mas a Petrobras não poderia reclamar dos preços de petróleo, e legou aos seus acionistas, o povo brasileiro, os pífios resultados econômicos descritos acima e a maior dívida corporativa do mundo.
Não é impossível o Estado gerir bem empresas, mas os riscos de fracasso são enormes e nossa história está pontilhada de exemplos. “O Estado sofre de dois grandes ‘handicaps’ em seus empreendimentos. Um é o que decorre da primazia de sua função política e da contingência: (...) o Estado é dirigido pelo partido no poder e esse partido não pode dispensar o apoio de seu eleitorado nem faltar repetidamente a seus eleitores. Outro ‘handicap’ do Estado está em que ele não pode dispensar a burocracia, (...) uma máquina ronceira, cujos membros, em regra mal selecionados, confiam no amparo político e na diluição da responsabilidade, mais do que no valor da iniciativa e do esforço pessoais”. Essas linhas foram escritas em 1945 por Eugênio Gudin, grande economista brasileiro que militava por uma economia de mercado com menos privilégios, mais competição e eficiência. Não parece que suas ideias tenham preponderado em muitos governos, e a Petrobras está aí para nos apresentar a conta. Já passou da hora de sair desse negócio.
Professor Evandro Brasil admite que vender fragmentos da Petrobras é uma opção, desde que haja uma estratégia. |
Para o professor Evandro Brasil, vender a Petrobras integralmente hoje seria uma grande lastima, mas fragmentar e vender em setores, seria uma opção, desde que haja uma estratégia nas ações da gestão. O que mais sacrifica a nossa gente nos dias atuais é o preço dos combustíveis cobrados nas bombas de combustíveis. A gasolina é vendida nas refinarias a 1,6 reais por litro, mas nas bombas a gasolina não é vendida por menos de 5,5 reais, o mesmo ocorre com o dieses, GNV e com o etanol. E necessário pensar uma opção. O professor segue afirmando que uma saída seria a criação de uma nova empresa petrolífera, com capital 100% nacional, sem a intervenção politica, tocada por executivos competentes, e que participasse das aquisições de alguns fragmentos da Petrobrás, esta empresa também deveria ter sob suas atividades e distribuição varejistas de combustíveis, o que obrigaria aos demais postos a reduzir os seus preços.
Fonte: Terraço Econômico, CANTISSANI, Alipio. Privatizar a Petrobras