Foto de arquivo: Polícia Federal em operação contra a corrupção nas polícias do estado do Rio de Janeiro (GovBr)Por Marcelo Procópio
Polícia: A segurança pública no Rio de Janeiro enfrenta desafios graves no combate ao crime organizado, e um dos maiores entraves é a corrupção dentro das próprias forças policiais, tanto na Polícia Militar quanto na Civil. Esse problema afeta diretamente a confiança da população e compromete a eficácia das operações de repressão ao crime.
Os moradores das áreas mais afetadas pelo domínio de facções criminosas e milícias expressam um profundo ceticismo em relação à atuação da polícia. "A gente não sabe em quem confiar. Muitas vezes, os próprios policiais estão envolvidos com os bandidos, e a gente acaba ficando no meio de uma guerra sem fim", desabafa João dos Santos, morador da Zona Oeste, uma área fortemente controlada por milícias.
O crime organizado domina territórios, controla o tráfico de drogas e impõe uma violência constante às comunidades. Além disso, milícias exploram atividades como a venda de gás e serviços de segurança. O pior é que essas organizações contam, muitas vezes, com a cumplicidade de policiais corruptos. “A gente vê a polícia entrando nas favelas, mas parece que só os pequenos são presos. Os chefes e milicianos continuam por aí. Não tem como isso ser normal”, afirma Maria Oliveira, moradora do Complexo do Alemão.
A corrupção policial não apenas facilita as atividades criminosas, como também compromete operações de inteligência e de campo. Em vez de desmantelar as facções, a atuação corrupta permite que elas se reestruturem e aumentem seu poder. “Eles sobem o morro, fazem operação, mas quem acaba sofrendo é a gente. Parece que a corrupção deixa as coisas como estão, sem mexer nos peixes grandes”, diz Roberta Silva, residente de uma área afetada pelo tráfico.
O sentimento de impotência é agravado pela falta de confiança da população nas forças de segurança. A percepção de que a polícia está infiltrada por elementos corruptos faz com que muitas pessoas evitem fazer denúncias ou colaborar com as autoridades, temendo represálias ou a inutilidade do esforço. Sem o apoio das comunidades, o combate ao crime organizado torna-se ainda mais difícil.
A corrupção nas forças policiais também abre caminho para abusos de poder. Operações mal planejadas e com uso excessivo de força resultam em mortes de inocentes, que muitas vezes são justificadas como “confrontos com criminosos”. “É revoltante. Morre gente inocente e nada muda. A polícia precisa ser honesta para fazer diferença”, comenta Antônio Ferreira, morador da Baixada Fluminense.
O combate ao crime organizado no Rio de Janeiro só será eficaz quando houver uma verdadeira reforma nas forças de segurança, com mecanismos rigorosos de controle interno e punição para os agentes corruptos. A corrupção não pode mais ser vista como um problema isolado, mas como uma questão estrutural. A população carioca anseia por uma polícia ética e comprometida com a segurança de todos. Somente assim será possível restaurar a confiança e combater de forma efetiva a violência que assola o estado.
O Caso dos Fuzis Entregues a Traficantes na Cidade Alta
O flagrante de policiais do BOPE entregando fuzis a traficantes na Cidade Alta, em 2017, expôs de maneira chocante a corrupção nas forças de segurança do Rio de Janeiro. A unidade, conhecida por seu combate ao tráfico, teve membros flagrados atuando como cúmplices do crime organizado, mostrando o quanto o problema é profundo e sistêmico.
Esse episódio revelou que o tráfico de drogas e o crime organizado sobrevivem não apenas pela violência, mas também pela colaboração de agentes públicos. Quando policiais, responsáveis por combater o crime, fornecem armamento pesado aos traficantes, a eficácia das operações é severamente comprometida, e a população perde a confiança na polícia.
A corrupção dentro das forças policiais transforma agentes da lei em facilitadores do crime, minando o combate ao tráfico e deixando as comunidades reféns da violência. Embora os policiais envolvidos tenham sido presos, o problema persiste e exige reformas estruturais para combater a infiltração do crime dentro das próprias instituições de segurança. Sem isso, o Rio de Janeiro continuará lutando uma guerra desigual, onde os criminosos têm aliados dentro do próprio Estado.
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